quarta-feira, 3 de junho de 2009

Governo banca ou combate a destruição da Amazônia?

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Greenpeace expõe contradições do governo, conta Safatle

"Parece haver uma sincronicidade às avessas na política ambiental brasileira", diz a jornalista Amália Safatle ao falar das diferenças entre os resultados apresentados pelo governo na área e um estudo divulgado pelo Greenpeace. "O contraditório abriu o mês comemorativo do meio ambiente", diz.
Governo banca ou combate a destruição da Amazônia?

Antonio Cruz/Agência Brasil
A contradição do governo sobre o desmatamento da Amazônia
A contradição do governo sobre o desmatamento da Amazônia

por Amália Safatle
De São Paulo

Parece haver uma sincronicidade às avessas na política ambiental brasileira. No mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil "cada vez mais está dando lições ao mundo" em matéria de conservação, o Greenpeace divulgou ao público relatório pelo qual acusa o governo federal de financiar e lucrar com o desmatamento da Amazônia. O contraditório abriu o mês comemorativo do meio ambiente.

No programa semanal Café com o Presidente, Lula destacou ações de combate às queimadas e ao desmatamento, e citou "feitos" dos últimos seis anos, como a criação de 25 milhões de hectares de áreas de conservação na Amazônia e a homologação de 10 milhões de hectares de terras indígenas A Farra do Boi na Amazônia, mostrou que o governo financiou, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, frigoríficos na região. Entre os anos 2007 a 2008, teria concedido R$ 2,65 bilhões às empresas em troca de ações.

Três frigoríficos - Bertin, JBS e Marfrig - seriam responsáveis por metade das exportações brasileiras de carne. Não há como afirmar categoricamente que todo o desmatamento para expansão da criação de gado tenha sido ilegal (além dos 20% permitidos pelo Código Florestal), mas ao sobrepor o mapa das fazendas com imagens obtidas recentemente por satélite, mais de 100 propriedades receberam multas em 2006.

O relatório aponta também a responsabilidade de empresas que integram a cadeia produtiva da carne, e involuntariamente incentivam o desmatamento - como as companhias de distribuição Carrefour e Wal-Mart -, e empresas que usam o couro como matéria-prima - Adidas, Nike, Honda, BMW e Timberland. Para evitar o problema, as empresas deveriam buscar a certificação da cadeia produtiva, garantindo ao consumidor a procedência legal dos produtos.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, ainda não havia lido o relatório, mas negou as acusações, afirmando que o banco só apóia projetos comprometidos com o desenvolvimento.

Se verdadeiras, as acusações expõem a incoerência da política de desenvolvimento socioambiental, pois mostra uma direção contrária à meta estabelecida no Plano Nacional sobre Mudança de Clima de reduzir em 80% do índice de desmatamento na Amazônia até 2020 - o equivalente a 5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono a menos na atmosfera. "Reduzimos em mais de 45% o desmatamento, coibindo a impunidade ambiental e tirando o crédito dos desmatadores", afirmou Lula.

Segundo o Greenpeace, o setor pecuário na Amazônia é responsável por quase 14% do desmatamento anual global (1,7 milhão de hectares são desmatados na Amazônia todos os anos e 12,5 milhões de hectares por ano são desmatados globalmente).

O desmatamento na Amazônia alça o Brasil à condição de 4º maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.

O sumário executivo do relatório A Farra do Boi na Amazônia está disponível em: www.greenpeace.org.br/gado/farradoboinaamazonia.pdf. Confira no site da ONG o que você, como cidadão e consumidor, pode fazer: www.greenpeace.org/brasil/amazonia/gado/o-que-voc-pode-fazer

*Amália Safatle é jornalista e fundadora da Página 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econômicos às questões sociais e ambientais.

Fonte: Terra Magazine

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